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sábado, 25 de novembro de 2017

CÂNCER: O MEDO É O PRINCIPAL INIMIGO

MEDO: a cabeça pira!

Marina da Silva

Há alguns anos, quando surgiram os blogs e passei a publicar sobre o perrengue que me abateu literalmente, jogou-me na lona, eu sempre busco falar da importância de não se deixar dominar pelo medo. Claro que o medo faz parte da vida e nos perrengues da vida, não só de doenças, qualquer coisa grave, o medão vem no pacote!
Eu não consegui lidar com o medo de morrer nem antes nem muito tempo depois, eu aprendi a viver com o medo com ajuda do tratamento psicológico e com os medicamentos tarjas-pretas. E estes não foram as únicas armas das quais lancei mão, mas foram  e são de excelente ajuda, afinal não morri nem do câncer nem do medo.
Ás vezes me pego pensando por que ninguém há quinze anos atrás [meu caso]   e mesmo no século passado e quiçá atualmente, se deu conta que a "cabeça" faz parte do corpo a ser tratado! Por cabeça entenda todos os sentimentos confusos,  conflitantes, tenebrosos, medos, enfim, tudo que assola a cabeça da pessoa diante de um diagnóstico de  câncer!
Parece que o tumor assume a identidade da gente e só se pensa e fala e trata o danado. O que está absolutamente correto, mas e o resto? Não sei com você, mas eu tive que pensar em tudo e todos: como contar para a família, como esconder para poupar a família, como contar para uma criança de sete aninhos sobre o perrengue, como a escola poderia ajudar, como voltar a estudar, trabalhar e acredite, até como seria a vida se eu não saísse viva para minha filha e ex-marido nas três décadas a partir de...Afff
Passei por todas as fases: o sustão, a queda, a negação, a blindagem da cabeça para seguir fingindo que era Mulher Maravilha, reunindo forças, montando um exército para não deixar a peteca cair; a virada Muié Marmota indo ao fundo do poço e aceitando o mais incrível: eu não era/sou a rainha da cocada baiana com pimenta!
Eu me perdi no diagnóstico e tive que vir catando os cacos e me reconstruindo aos poucos e me sentindo  Frankenstein e com raiva e ódio profundos de tudo, Deus incluso. Queria minha vida de volta! Pronto, falei!
Em 2001 havia celulares, internet,  redes sociais como Orkut, mas eu lidava muito pouco com as novas tecnologias. Era tudo muito novo, obscuro e havia a pregação do "mal da internet" desde os anos noventa! A moda eram os celulares e computadores pessoais e games.
O jeito que achei de enfrentar o medo da doença voltar foi ocupar minha cabeça 24H por dia, todos os dias do ano. Trabalho, muita faxina, estudos. Fiz duas especializações! kkkkkk
A escrita foi minha terapia e escrever um diário foi o melhor conselho que recebi, embora tenha zombado dele no início! Eu passei a prescrever a "escritaterapia" todas as vezes que tive chance pessoalmente e depois no blog e Twitter e Facebook e "zapis"!
Foi a forma ideal para mim, foi como combati o espalhamento de ideias malucas para a cabeça e lidei com o medo na fase terror!
E esta primeira escrita não ajustou os parafusos da minha cabeça, mas me deixou mais funcional, abusando da linguagem século XXI! A psicanálise, terapia da palavra, esta me ajudou muito e ajuda. Sempre que o "bicho pega" peço ajuda, socorro, salvação, dependendo do tamanho da "coisa".
Tem a Fé, mas esta vem em primeiro lugar de tudo! É dela que tirei forças para seguir o tratamento e me quitar fora da cabeça os pensamentos mórbidos e ideias malucas que chamo de metástases psicológicas.
Mas sempre fiquei com um "trem" mal ajambrado, inacabado, inadequado, indesejável na cabeça: por que ninguém pensava na minha cabeça?
Claro que pensavam tanto os médicos como familiares e amigos e colegas e vizinhos e até o síndico. rsrsrs
Livros, orações, presentes, visitas, conselhos! O medo do câncer impediu alguns de se aproximar e afastou alguns outros, entendi depois como parte da vida! Das curiosidades que me abalaram: uma era ter que fazer sexo para o homem não me abandonar! Gzuis! kkkkk Eu devia estar sempre bem, linda, recatada, dular? TNC! Fingi muito que tudo estava bem quando na verdade queria mesmo era ter tido coragem pra chutar o balde, soltar os cachorros, mandar para os quintos dusinfernú!
Até a minha "preciosa" vinha em primeiro lugar e não era para mim, para o meu prazer e minha alegria e sim para "nossa alegria"?kkkkkkk

***

Há algum tempo, e, infelizmente não sei precisar desde quando, notei a ausência do medo na minha pessoa e um desaceleramento geral. Quando isto aconteceu eu não sei, mas sei que é possível e talvez se eu tivesse as ferramentas corretas poderia ter lidado melhor com "minha cabeça" que ficou despregada do corpo, sabotada por mim, mas também por outros! 
Conversando comigo mesma eu sempre me dizia:
_Você não precisa de ninguém pra te ferrar! 
E eu mesma tinha que lidar comigo para não sabotar a minha própria pessoa! Soou esquisito néh? Nem sei se consigo repetir o que escrevi acima, mas tem isto mesmo comigo!
Escrever em blog foi outra ferramenta que me ajudou mais que eu possa ter ajudado outra pessoa, admito com orgulho e pesar: por que não haviam inventado os blogs, Twitter, Facebook, What'sapp lá nos idos do perrengue? Eu teria salvado a "minha cabeça" da minha cabeça! kkkkk

CONSELHO:  use e abuse das redes sociais, dos grupos de apoio virtuais CONFIÁVEIS! Achar alguém que viveu ou está vivendo o mesmo que nós e uma, duas, várias vezes e poder trocar ideias e sentimentos é muito bom, aliás, excelente para a cabeça. Descobrir que não está sozinho(a), que não é um(a) alienígena, que não está falando grego ou mandarim ao expor suas dúvidas, medos, angústias e questões que parecem bobinhas [ficar careca], mas são de transcendental importância para a gente SALVARÁ  a sua cabeça! Bj e pandiquejú. Marina

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

CÂNCER DE PRÓSTATA: DIA DO HOMEM?

DIA DO HOMEM
Marina da Silva
Entre uma exclamação de surpresa e alegria fui arrastada até a vitrine de uma loja de cosméticos.
_ Dia 15 de julho é dia do homem!!
_ Uai - pensei confusa - Já é dia dos pais?
_ Eu quero presente – informou sorrindo.
_ O que você quer ganhar?
_ Uma flor? Perguntou entre sarcástica e brincalhona a filha adolescente. A caminho de casa especulei sobre o porquê de uma data para comemorar o dia do homem. Está certo que nem todo homem é pai, porém... Todo dia não é dia do homem? Há quanto tempo dia 15 de julho virou o dia do homem? Quem definiu o dia do homem e por quê? O que está por trás disso tudo? Passei uma dezena de dias interrogando mulheres e homens, inclusive o meu.
_ Se tem dia das mulheres tem que ter o dia dos homens. Homens e mulheres têm direitos iguais, está nos termos da Constituição! Ok! Sustentação oral legal e nos temos da Lei, tema pacificado!
_ É brincadeira? Existe mesmo dia do homem? A maioria, de ambos os sexos, devolvendo-me a pergunta confusos. Cê tá zoando...
_ Claro que não! Eles não fizeram nada para merecer como nós mulheres!
_ Claro que sim! Você acha que ser homem é fácil? Aguentar mulher né brinquedo não!
_ Homem não merece! Não menstrua, não tem Tpm, não engravida, não tem menopausa e nunca vai parir! É mesmo- completei em pensamento – não usam absorventes nem touca nem rolinhos, sem falar nas famigeradas máscaras faciais!
_ Acho legal para a gente trocar presentes! Após ouvir prós e contras e conjecturar bastante fui a internet para uma pesquisa básica e descobri: pouco ou quase nada se sabe sobre o dia do homem! Não é um dia comemorado mundialmente; nada consta na Europa, Canadá, Austrália, Estados Unidos! Alguns relatos dão conta que o dia foi sugerido pelo ex presidente soviético Mikhail Gorbachev; outros afirmam que foi a ONU quem criou, no Brasil é idéia de uma empresa de cosméticos. Alguns países comemoram no dia 19 de novembro e aqui, do meio do nada, 15 de julho! “O Boticário des cobriu que existe o Dia do Homem - provavelmente pesquisa Google - e vai incorporá-lo no calendário de datas comemorativas da marca. Assim como o dia internacional da Mulher, o dia das Mães, o dia dos namorados, além do Natal, a partir deste ano a marca vai celebrar no dia 15 de julho o dia do Homem no Brasil.” (06-07-2009) De forma totalmente diversa ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher que representa  lutas, conquistas, mortes por direitos civis, trabalhistas, posse do próprio corpo e sexualidade - no ocidente e ainda assim não extensivo a todas as mulheres - o 15 de julho, dia do homem cheira a estratégia mercadológica, incentivo consumista. Será possível reverter esta imagem de coisa “doada” e criada para o mercado e tornar o dia 15 de julho, Dia do Gênero Humano (homens e mulheres)? Um dia de luta por direitos ao trabalho, salário, saúde, educação, segurança, moradia, lazer, vida digna, igualdade entre os sexos, cooperação e execração do sexismo, das liberdades civis, de crenças (quaisquer uma), de opções sexuais, contra o racismo, etc, em todo o planeta?  Aceitando-se 15 de julho, o dia dos homens, é necessário impedir que ele se transforme meramente  no dia de receber flores e alertas sobre o câncer de próstata (2ª causa mortes de homens por câncer), dia do toque retal, de levar a “dedada”, venda de perfumes e camisetas como acontece atualmente ao Dia Internacional da Mulher! São inegáveis as lutas históricas das mulheres por seus direitos, principalmente nos séculos XIX e XX! Atualmente em alguns países 50% da força de trabalho é feminina, mas mesmo com Qi elevado, pós graduada, informatizada, auto-sufic iente, ela “não passa de uma mulher”. Cada vez mais aumentam as violências diversas contra mulheres e meninas e o crescimento ou invasão de mulheres no mercado de trabalho se dá de forma precária e usada para rebaixar os salários de homens e mulheres! Urge uma revolução masculina assim como aconteceu com a revolução feminina! Hodiernamente as mulheres estão mais preparadas, educadas, qualificadas e disputam pau-a-pau o mercado de trabalho antes dominado por homens, mas o fazem aviltadas, recebendo menos, em piores condições: nos Estados Unidos ganham 23% menos que os homens, na União européia a média ultrapassa 15% e no Brasil nem é bom falar! Não apenas os salários e as condições de trabalho feminino são precários, as mulheres ainda sofrem assédios vários (sexual, moral e o escambal) e tudo sem a menor chance de optar: trabalhar, estudar, casar, cuidar da casa e criar filhos vem num pacote só e muitas vezes sem o amparo masculino! As mulheres s empre trabalharam. Desde que a espécie desceu das árvores e durante todo o processo de construção da sociabilidade humana homens e mulheres trabalham! Foram as mulheres que, no século XX, durante as duas Grandes Guerras, ocuparam e substituiriam a força masculina dando suporte aos homens deslocados para as frentes de guerras. É impressionante o trabalho das mulheres na reconstrução de cidades arrasadas nas guerras (a título de exemplo, a força de reconstrução das alemãs). Quem é melhor: homem ou mulher? Quem é mais inteligente e tem mais neurônios? Quem produz mais? Quem é o mais forte? A pergunta deve ser outra: quem leva a melhor com esta disputa estúpida? Quem lucra alto com a guerra entre os sexos? É preciso romper com estas questões inúteis, improfícuas, meras cortinas de fumaça que justificam a exploração, opressão e expropriação brutal do trabalho e potencialidades de homens e mulheres! 19 de novembro ou 15 de julho? Não importa a data e sim o posicionar humano de homens e mulheres por uma vida humana rica, produtiva de e para ambos, lado a lado e não como opostos, adversários, fortalecendo o inimigo (aqueles que se enriquecem com o rebaixamento de homens e mulheres). É preciso resgatar a perspectiva e o sonho de uma vida autêntica, humana, construída por e para homens e mulheres e regadas a flores perfumes e champanhe! “O homem criou tanta coisa boa” e não somente perfumes e sempre com o auxílio das mulheres. Então...Viva 15 de Julho! Dia do Homem (do gênero humano)!